22 de janeiro de 2009

Tickets do metrô parisiense

A situação não é lá tão comum de acontecer, mas também não é nada tão raro assim. Realiza: Você está em Paris, radiante como um feriado. Claro, vai pegar o metrô direto para aquele café bacana que você viu na revista - você penteou o cabelo diferente e até botou o cachecol novo. Confiante, vai em direção às catracas do metrô, coloca o bilhete no lugar certo mas... A maldita catraca não abre! Você tenta disfarçar a cara de encatracado enquanto segue para o guichê trocar seu bilhete.

Pois na edição de hoje do Le Figaro o brilhante colunista Jean-Luc Nothias explicou o por quê dos bilhetes de metrô se desmagnetizarem e deu boas dicas de como evitar que isso aconteça. E o mais interessante da matéria é que ele também nos conta um pouco sobre a historia dos bilhetes do metrô parisiense e como funcionam suas misteriosas fitinhas magnéticas.

Primeiro, um pouquinho de historia

Segundo nos conta Nothias, o primeiro ticket de metrô apareceu em Paris em 19 de julho de 1900 com a inauguração da linha 1, que mesmo na época já ligava Porte-Maillot a Vincennes. Na época os trens do metrô eram formados por vagões de primeira e segunda classe. Em 1900 o bilhete ainda não dispunha de fita magnética e os chefes de trem (poiçonneurs), passavam de vagão em vagão validando as passagens com um alicate que furava os bilhetes. Êita! Acabo de me lembrar de uma música do Gainsbourg que fala disso...

Que perfuratrizes que nada! Na Paris de 1900 as avenidas da cidade eram rasgadas, os trilhos do metrô passavam e depois tudo era coberto de novo. Aqui, a avenue de l'Opèra aberta para a construção do metrô - e até hoje tudo funciona que é uma beleza!

Os tickets magnéticos de funcionamento similar ao que conhecemos hoje surgiram em Paris apenas em 1967, seguindo o modelo que uma empresa francesa desenvolveu para o metrô de Montreal um ano antes.

Olha como era o metrô na estação Bastille em 1908.

Mas e a tal fitinha magnética?

Pois bem, é justamente a tal fitinha magnética de 5 milímetros de largura no verso do pequeno ticket de cartolina que faz a mágica acontecer. Ela é feita de uma tinta impregnada com partículas de óxido de ferro que funcionam como mini-ímãs - com pólo positivo, negativo e tudo mais a que um ímã tem direito. Esses mini-ímãs são colocados na fita de qualquer jeito, sem respeitar polaridade nem nada disso. Mas quando são submetidos a um campo magnético, os mini-imãs passam a se orientar paralelamente. Assim, o sistema permite criar um código binário simples, o que possibilita “gravar” um código sequencial de 0's e 1's na pista de tinta magnética.

Como? Assim, Joãozinho: quando compramos os bilhetes do metrô, eles são impressos com os tais mini-ímãs todos desorientados - o bilhete contém dessa maneira apenas códigos binários 0. Quando você passa o bilhete pela catraca do metrô, os mini-ímãs passam por um novo campo magnético que deixam alguns pedacinhos da fita magneticamente ordenados, criando uma seqüência binária (de 0's e 1's) na fitinha do seu bilhete. Assim, mini-imãs desordenados são entendidos como 0's e mini imãs ordenados são entendidos como 1's.

Dessa forma o seu ticket também é capaz de informar sua validade, limitação geográfica, horário de uso, ponto de utilização... Os fiscais da RATP têm um aparelhinho chamado detector de Hall, que injeta uma pequena corrente elétrica no seu bilhete de metrô capaz de interpretar essas informações - a intensidade de corrente do aparelho depende do valor 0 ou 1 do código binário. Dessa forma, através da variação de corrente elétrica o aparelho consegue saber tudo o que está gravado no seu bilhete. Portanto, de nada adianta os espertalhões pularem a catraca e depois apresentarem um bilhete do mês passado - tipos assim além de irem para o Inferno por mentir, ainda pagam em vida uma multa de 50,00€ para a RATP.

Pequenas (e importantes) recomendações

Assim, fica claro que a causa do bilhete deixar de funcionar se deve a desmagnetização acidental da fitinha que fica no verso do ticket - o que faz com que todas as informações gravadas nela sejam perdidas, já que os bilhetes de metrô são sensíveis aos campos magnéticos.

E é por isso que a RATP recomenda que você não os deixe próximos a campos magnéticos que possam modificar a orientação dos mini-ímãs. Para as mulheres, uma recomendação especial: além de celulares, televisores, fones de ouvido, etc. os ímãs dos fechos magnéticos de bolsas, estojos de óculos e agendas também são fortes o suficiente para desmagnetizar seus bilhetes de metrô. E isso não depende apenas do tempo de permanência do campo magnético, mas também de sua intensidade. Portanto, aquela sua bolsa invocadona que tem um ímã tão bom que praticamente a fecha sozinha e até distorce a imagem da TV quando você passa perto (putz, que exagero), é uma verdadeira catástrofe para os seus bilhetes de metrô.

Já os modernos cartões Navigo equipados com a tecnologia RFID (um sistema de identificação por rádio freqüência) estão isentos desse tipo problema. Todas as suas informações ficam armazenadas num chip eletrônico equipado com antena. E nem é preciso o contato físico entre o cartão e a catraca para que a mensagem seja interpretada. Mais prático, mais rápido e mais seguro para guardar informações. Ao que tudo indica, os tickets magnéticos já ensaiam a aposentadoria definitiva que deve acontecer em poucos anos.

Para ler a matéria de Jean-Luc Nothias no Le Figaro:
Pourquoi les tickets de métro peuvent-ils se démagnétiser?

Foto menor: Jornal Le Figaro / Fotos em branco e preto: Arquivo RATP

Um comentário:

Anônimo disse...

Montréal já usa RFID, como num carte de crédit. Para passagens individuais, usam ainda os bilhetes de papel. Metrô e ônibus tem computadores. Os trens usam a confiança em você.