25 de agosto de 2009

Paris, 25 de agosto: um dia para recordar

Na noite do dia 24 de agosto de 1944 as tropas do marechal Leclerc, encorajadas pelo levante dos parisienses, chegam com seus blindados à Paris através de Porte d’Orléans para finalmente libertar a capital do domínio alemão.

Os combates se estenderam durante toda a madrugada. Na manhã do dia 25, poucos soldados alemães ainda esboçavam alguma reação. Nesse mesmo dia o general de Gaulle, um grande homem de poucas palavras, se dirige à população diante do Hôtel de Ville em um discurso célebre:

"Pourquoi voulez-vous que nous dissimulions l'émotion qui nous étreint tous, hommes et femmes, qui sommes ici, chez nous, dans Paris debout pour se libérer et qui a su le faire de ses mains. Non ! Nous ne dissimulerons pas cette émotion profonde et sacrée. Il y a là des minutes qui dépassent chacune de nos pauvres vies.

Paris ! Paris outragé ! Paris brisé ! Paris martyrisé ! Mais Paris libéré ! Libéré par lui-même, libéré par son peuple avec le concours des armées de la France, avec l'appui et le concours de la France tout entière, de la France qui se bat, de la seule France, de la vraie France, de la France éternelle.

Je dis d'abord de ses devoirs, et je les résumerai tous en disant que, pour le moment, il s'agit de devoirs de guerre. L'ennemi chancelle mais il n'est pas encore battu. Il reste sur notre sol. Il ne suffira même pas que nous l'ayons, avec le concours de nos chers et admirables alliés, chassé de chez nous pour que nous nous tenions pour satisfaits après ce qui s'est passé. Nous voulons entrer sur son territoire, comme il se doit, en vainqueurs. C'est pour cela que l'avant-garde française est entrée à Paris à coups de canon. C'est pour cela que la grande armée française d'Italie a débarqué dans le Midi et remonte rapidement la vallée du Rhône. C'est pour cela que nos braves et chères forces de l'intérieur vont s'armer d'armes modernes. C'est pour cette revanche, cette vengeance et cette justice, que nous continuerons de nous battre jusqu'au dernier jour, jusqu'au jour de la victoire totale et complète. Ce devoir de guerre, tous les hommes qui sont ici et tous ceux qui nous entendent en France savent qu'il exige l'unité nationale. Nous autres, qui aurons vécu les plus grandes heures de notre Histoire, nous n'avons pas à vouloir autre chose que de nous montrer jusqu'à la fin, dignes de la France. Vive la France !"

Também chega às bancas a primeira edição do jornal Le Figaro desde que o jornal foi obrigado a cessar sua circulação em 1942. Clique aqui para ler a primeira página dessa edição histórica.


Acima, um registro da 2ª Divisão Blindada. Criada em 1943 no Marrocos, a tropa do marechal Leclerc entrou em Paris antes dos aliados, retidos na Normandia em meio a contratempos. A foto acima foi tirada em 25 de agosto de 1944 e pertence ao acervo do Mémorial du Maréchal Leclerc de Hauteclocque et de la Libération de Paris, Musée Jean Moulin.

Pouco antes, em 10 de agosto, os parisienses preparavam o boulevard Sébastopol para o combate: cortavam árvores, cavavam ruas, usavam grelhas do calçamento na construção de barricadas - a libertação da cidade era tarefa de todos.

Em 20 de agosto, mais de 1000 franceses tomaram o Hôtel de Ville e ali montaram uma base de resistência popular contra o exército alemão.

Difícil de acreditar na imagem de desolação que os soldados do general Fabien encontraram na sua chegada ao Palais du Luxembourg (foto acima) - onde sempre existiram flores, via-se apenas destroços.

E ali mesmo. Onde hoje nos sentamos para ouvir os acordeons entoarem canções de Piaf. Onde por diversas vezes me debrucei tranqüilo sobre uma ponte para ver o rio da minha vida simplesmente passar... Onde um bem tirado petit café servido na calçada serve como pretexto para observar o movimento das ruas e desfrutar dos primeiros raios de sol da manhã. Bem ali. Onde apoiei os cotovelos no balcão, sujei os dedos com tinta de jornal e tive o coração tão repleto de felicidade que ela me saia pelos olhos sem que eu pudesse conter. Ali. Onde famílias de todo o mundo se encantam diante de tanta beleza e amigos se reúnem sorridentes ao redor de uma mesa. Ali. Bem ali. Em 20 de agosto de 1944 barricadas se levantaram. Os sinos da minha linda e entristecida catedral foram abafados pelo som de tiros, sirenes, motores e o marchar pesado dos soldados. A música que emana da cidade, o som da vida passando apressada pelas das ruas, a delicadeza do idioma falado pelas criancinhas, os sotaques do mundo... Todos os sons que tanto aprendi a amar, um dia foram abafados pela estupidez dos homens. E tudo isso aconteceu ali. Logo ali...

Mas há 65 anos, Paris estava novamente livre. Paris. Paris ultrajada. Paris despedaçada. Paris martirizada. Mas Paris livre, enfim! Paris... Uma cidade libertada por si mesma.

4 comentários:

Cláudia disse...

Nossa, Jack! Emocionante o que você escreveu.Lindo, sensível. Adorei!Parabéns!
É a primeira vez que vejo o discurso do de Gaulle escrito. Vou levá-lo para a minha aula de francês.
Você já assistiu ao filme Le Grand Charles?

Jackson Martins disse...

Claudia, muito obrigado pelas palavras. Comecei a assistir o filme Le Grand Charles uma vez (e estava achando otimo), mas infelizmente não consegui terminar de vê-lo. Ja esta na minha lista de proximos filmes a ver. Um grande abraço.

Anônimo disse...

Essa ultima foto era a foto do shopping villa lobos...

Jackson Martins disse...

Prezado(a) anônimo(a), lembro-me de ter visto as fotos de Helmut Newton, que durante muito tempo enfeitaram a fachada do shopping Villa-Lobos... Infelizmente não cheguei a ver as de Robert Doisneau por la.